Embora os RPGs tenham sido criados nos Estados Unidos, com o único objetivo de divertir os jovens, o Brasil é pioneiro na utilização da técnica da narração interativa com fins educacitivos, isso é o que nos declara Douglas Reis, editor chefe da Devir, principal editora do ramo de RPGs.
A sigla tem sua origem na língua inglesa "RolePlaying Game" ou "Jogo de Interpretação de Personagens". A ideia é muito simples, um narrador (às vezes também chamado de mestre) cria uma espécie de roteiro de uma história. Entretanto, enquanto ele narra essa história, cada "jogador" pode enviar ações a um personagem específico. Seria como se o narrador estivesse no controle de toda a história, e cada jogador controlasse um dos personagens desta história. Assim, com a interação entre os jogadores e o narrador uma nova história vai se moldando, na medida que é impossível prever com antecedência as ações que os jogadores vão querer tomar. Desta forma, com imaginação, criatividade, diálogo e um pouco de jogo de cintura uma nova história pode ser formar cada vez que é narrada, dependendo de quem são os jogadores.
O RPG já existe há mais ou menos 3 décadas no Brasil. Muitos dos jovens se divertiam com essa "técnica de jogo" tornaram-se professores e perceberam as grandes possibilidades que ela oferecia aos alunos. Uma vez que é possível se criar qualquer história para ser narrada é possível que ele seja utilizado em qualquer aula de qualquer matéria. Um grupo iniciado por Maria do Carmo Zanini, chamado LudusCulturalis, começou a instruir gratuitamente os professores a utilizarem-se desta técnica da narração interativa, desta iniciativa surgiram os Símpósios de RPG e Educação, sendo que a quarta edição foi sediada pela Uninove, contando com cerca de mil professores.
A grande vantagem desta técnica é que não necessita de nenhum material especial. Apenas pessoas conversando, apesar disso ela tem ares de um jogo eletrônico divertido, uma vez que é completamente interativo. Desta forma trata-se de um grande avanço em termos de "tecnologia humana" pois não requer nem mesmo de lápis, papel, giz ou dados (que podem ajudar na atividade, mas não são necessários).
Em termos simples funciona assim.
O professor assume o papel de narrador. Explica brevemente onde os alunos estão e vai descrevendo o universo a volta deles. Cada aluno (ou cada grupo de alunos) deve representar um papel específico, assumindo um personagem (por exemplo, marinheiros dentro de uma das caravelas de cabral, ou tripulantes de uma micronave dentro do corpo humano, ou gotas de chuva tentando sair de uma nuvem e atingir uma floresta em chamas, etc) O professor descreve a situação e deixa o espaço aberto para que cada "personagem" indique uma ação que deseja tomar. Então, utilizando-se da lógica e de seus conhecimentos, o professor indica o que ocorreu como consequência daquela ação.
Em salas grandes (acima de 20 alunos) é conveninente que cada grupo de alunos assuma um único personagem, de modo que tenham que discutir entre as possíveis ações deste personagem.
Exemplo:
Professor: Vocês estão vendo uma grande tempestade se aproximar, as velas estão balançando e a caravela começa a oferecer sinais de que pode se romper ao meio. Cabral, assustado tenta correr para dentro de sua cabine, mas a porta emperrou, nisto as ondas cada vez mais altas começam a açoitar o navio.
Aluno 1 - Eu vou correndo para tentar ajudar o Cabral a abrir a porta.
Alunos 2 e 3 - Vamos tentar virar o timão para nos colocar para longe da tempestade.
Aluno 4 - Tento pegar um corda.
Professor: Aluno 1, você ajudando o Cabral a abrir a porta consegue fazer com que ela se abra, mas, neste instante uma onda bate nele e o derruba ao chão, fazendo com que ele vá escorregando pela caravela abaixo. Alunos 2 e 3, vocês tentam pegar o timão, mas ele está rodando tão rápido para todos os lados que tudo o que vocês conseguem são dedos roxos. Aluno 4, você encontra um pedaço de corda solto no chão, mas ele não tem mais do que 4 metros.
Aluno 1 - Vou tentar corretar atrás do cabral e peço para o aluno 4 me jogar a corda.
Aluno 4 - Eu jogo a corda para o aluno 1.
Professor - Ok, você está com a corda na mão e agora?
E assim, com o professor narrando a situação como todo e cada aluno controlando o seu personagem, a história se desenrola.
A ideia do dado e do lápis e papel servem para duas outras etapas. Os dados aleatórios e a criação de personagens.
Dados Aleatórios:
Ás vezes pode parecer muito arbitrário ao professor atribuir do nada se uma ação deu errada ou não. Desta forma ele pode estabelecer uma questão de probabilidade. No exemplo acima, vamos supor que eles lancem a corda para Cabral a agarrar. O professor estipula que há uma chance de 50% disso dar certo, então joga o dado indicando, se der par ele consegue, se der ímpar ele não consegue. Caso seja algo mais improvável, ele pode estabelecer um número específico do dado. Por exemplo, alguém resolve que gostaria de subir na vela e lá de cima saltar para cair em cima do Cabral antes que ele escorregasse. Na vida real isso seria muito improvável, então o professor estabelecer que caso o dado tenha o resultado 6 o aluno conseguiu, caso contrário não.
Criação de Personagens:
Uma vez que o professor já tenha se acostumado com a técnica da narração interativa, é interessante trabalhar na criação de personagens, de forma básica, pode-se pensar em uma lista de qualidades e defeitos, de modo que os alunos precisem selecionar para dar ao seu personagem. Isso influencia na hora de escolher caso uma decisão é possível ou não. Por exemplo, caso um aluno tenha escolhido o defeito "olho de vidro" terá menos chances de lançar a corda ao Cabral, ou então, caso ele tenha escolhido "olhar de águia" as chances serão maiores.
...
Para facilitar o professor na criação de aventuras, qualidades, defeitos, probabilidades, entre outros, há uma série de livros que já vem com cenários previamente criados, listas de atributos para criação de personagem entre outros. Alguns destes especialmente pensados para uso em sala de aula.
...
Uma vez que seja necessário um pouco mais de leitura do que um post de blog parece oferecer, estou indicando 4 livros online gratuitos.
RPG e Educação - por Leandro Villela de Azevedo
RPG e Teatro Educação - por Vanessa Martins de Lima
Cruzadas - A Cidade Sangrenta - por Leandro Villela de Azevedo
(este não é de narração interativa, mas de leitura interativa, portanto é uma aventura)
Conspiração Romana - O assassino do imperador - por Leandro Villela de Azevedo
(também é uma leitura interativa)
Para mais informações sobre o rpg educacional é possível entrar em contato com Anderson Gomes, presidente da MegaCorp, uma empresa que realiza mensalmente encontros de RPG no Centro Cultural São Paulo. - http://www.grupomegacorp.com.br - ned_arons@yahoo.com.br
autoria: Leandro Villela de Azevedo - professorleandrovillela@gmail.com
(Revisado por Heloisa Machado em 14/05)
Nenhum comentário:
Postar um comentário