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quarta-feira, 23 de março de 2011

A importância do erro

Aluno que é aluno, claro, quer sempre acertar. Mas afinal, isso é justificável, quem é que gosta de errar? Às vezes o desejo de acertar é tão grande que se recorre a opções como a "cola". O desejo do acerto, da nota dez, conforme expresso poéticamente por Gabriel Pensador, motiva os alunos, muitas vezes ou quase sempre, mais do que a aprendizagem. Entretanto, em uma postura construtivista do ensino, o erro pode ser tão ou mais importante do que o acerto.



A cada erro aprendemos um pouco mais sobre o que levou nossa tentativa ao fracasso, aprendemos o caminho a não trilhar, deduzimos, ao menos em parte, o caminho certo e avaliamos nossas possibilidades. Novas tentativas vêm e isso é tão importante quanto a reafirmação do que fizemos certo. Porém, como o professor pode orientar seu aluno nesse processo uma vez que o formato formal de avaliação continua sendo apenas contabilizar os acertos? Por mais que se tenham avaliações contínuas e diagnósticas de modo a prever o avanço do aluno, ainda assim, individualmente, cada uma delas, prevê uma pontuação baseada nos acertos.

De certa forma, talvez o maior desafio ao profesor não seja premiar o acerto, mas conseguir avaliar, junto com o aluno, a origem dos erros. E normalmente, causas diferentes podem não significar uma gradação de "erro grave" ou "erro menos grave", mas apenas demonstram quais os pontos que precisam ser mais trabalhados.

Essa reflexão surgiu quando fazia a correção de uma prova de história relativamente incomum. Em especial um exercício completamente ligado à matemática, uma vez que se tratava de uma prova de coleta de dados, interpretação e análise de linhas do tempo; aplicada para o meu sexto ano.

Um exercício simples composto por uma linha do tempo com 4 datas.
1500 - descobrimento do Brasil
1822 - independência
1889 - proclamação da república
2002 - posse do presidente Lula


e 4 perguntas:
1 - Quanto tempo atrás o Brasil foi descoberto?
2 - Quanto tempo se passou desde o descobrimento até a independência?
3 - Quanto tempo se passou desde a proclamação da república até a posse do presidente Lula?
4 - Insira na linha do tempo acima a data do seu nascimento.

Mesmo para um sexto ano o exercício era simples. Não havia problematização do termo "descobrimento" não havia questionamento sobre a independência ter sido real ou não, sobre outros navegadores que teriam chegado antes. Nada do que eu certamente colocaria nas séries mais avançadas.

Ainda assim, com respostas simples e esperadas (daquelas que menos gosto: tipo "preenchimento de ficha") percebi uma multiplicidade tão grande de erros que me fez refletir muito. Não erros que demonstram falta de conhecimento, mas diferenças no pensamento, dificuldades diferentes, percebidas e mapeadas com uma simples questão.

Categorias de erro

A - Compreensão completa do funcionamento da linha do tempo, uma dificuldade de cálculo:
Nesse caso os alunos criavam contas corretas, como 2011 - 1500 , mas chegavam a resultados incorretos, como 1511. Apesar do erro de conta não havia outra fala de lógica nas respostas.

B - Dificuldade de cálculo somada à dificuldade de relação lógica dos resultados entre si:
Muitos alunos erravam apenas uma das contas, mas não percebiam que o resultado era completamente inaceitável perante os outros. Por exemplo, chegavam a conclusão que o Brasil tinha 511 anos, mas que havia se passado 1322 anos entre o descobrimento e a independência. Além de errarem o cálculo, neste caso não conseguiram abstrair a impossibilidade de o Brasil ter apenas 511 e ter mais tempo do que isso em apenas uma parte de sua história.

C - Dificuldade de unir conhecimentos prévios aos cálculos da prova:
Alguns alunos chegaram à conclusão de que havia se passado 13 anos entre a proclamação da república e a posse do presidente Lula. Entretanto, todos eles sabem que seus pais, com idades entre 30 e 40 anos, não viveram na época do império (questionei após a avaliação sobre esse fato), mas não percebiam que 13 anos era um tempo muito curto, independente de qualquer cálculo, para se chegar à "época de D. Pedro".

D - Dificuldade de compreender o funcionamento da linha do tempo:
Raros alunos encontraram essa dificuldade, que seria a única dificuldade procedimental realmente ligada à história caso fôssemos pensar nas disciplinas isoladamente (o que nunca é aconselhável de se fazer).

E - Insegurança
Por incrível que pareça um número grande de alunos cometeu erros por insegurança. Todos eles sabiam que para calcular a idade do Brasil era necessário diminuir da data atual a do descobrimento. Alguns chegaram a fazer a conta a lápis na prova. Mas como não viam escrito na linha do tempo ano 2011 se sentiram desconfortáveis achando que seria errado usar um dado que não tinha sido apresentado na avaliação. Um dos alunos até colocou "professor, você esqueceu de escrever na linha do tempo 2011. E com isso, pensando que estavam errando, erraram, por medo de utilizarem um dado que viesse deles.

Com o seu erro é possível aprender muito mais de um aluno, caso seja possível analisar com calma os motivos por trás dos mesmos, do que simplesmente vendo a resposta certa que é apenas "esperada". Claro que essa consideração envolve respostas simples como essa. Em questões dissertativas e argumentativas a separação entre erro e acerto não é tão facilmente discernida e o desenvolvimento das respostas e da argumentação das mesmas é o mais importante, sendo possível avaliar com mais cuidado, tanto o erro quanto o acerto (e normalmente algo entre os dois).


autoria: Leandro Villela de Azevedo - professorleandrovillela@gmail.com
Ilustrações: Karen Novak
(Revisado por Heloisa Machado em 26/04)

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